- Friedrich Nietzsche
Eu penso demais.
Bem, quando me peguei escrevendo duas folhas competas em uma máquina de escrever num frênesi mental, disse a mim mesmo que faria um blog. Mas por quê? Por que escrevi as duas folhas? O fato é que minha imaginação é aguçada demais. Eu filosofo mais do que jamais quis. Tenho em meu espírito o peso da verdade e simplesmente falar isso para alguns amigos quando me encontro embriagado não é o suficente nesse momento. Nestes manuscritos virtuais, tratarei de tudo que é. Da verdade subjascente que jaz em tudo no mundo. Oh, eis aqui um bom gancho para começar o escrito de uma de minhas ideias primordiais.
O existir é simples e pleno. Auto-suficiente e completo. O ser simplesmente é. Geralmente estamos em contato direto com o ser das coisas, mas não nos apercebemos disso. Muitas vezes, como não podemos evitar, atribuímos juízos e valores a coisas que não possuem tais características. Mas as coisas não tem características que a tornam completas em sua existência, que é auto-suficiente. Como seres vivos, biológicos, animais e exacerbadamente humanos, sempre projetamos esperanças, ideologias, preconceitos e pretensões meramente subjetivas sobre tudo o que contemplamos. Quando o fazemos, podemos radicalizar a atribuição de valores, fazendo-os representar um bem ou um mal para nossas vidas. Pessoas vivem e morrem sem perceber que tudo que julgam é um fruto de seu próprio julgamento e não reflete uma verdade universal, como é muito fácil fazer.
Todos os objetos de análise, quando imaginados, evocam uma série de sentimentos e conceitos que nos afetam e que são frutos de toda nossa formação psíquica. Naturalmente, tão instantaneamente quanto esses sentimentos e conceitos são evocados pela imaginação dos objetos, temos já juízos prontos sobre a utilidade, propósito e efeito de cada um deles. Isso é natural e é fruto de experiências subjetivas que vivemos durante nossos anos de vida. Mas o ponto é: não tomamos estes julgamentos subjetivos como a realidade objetiva na existência dos objetos? Sim, natural e desapercebidamente.
Quando duas pessoas confrontam suas opiniões sobre qualquer coisa e estas opiniões se divergem em certo ponto, cada uma achará que está certa, ou, mais raramente, refletirá a respeito da validade de seu juízo. Mas aí temos dentro da existência objetiva do objeto as duas verdades? Uma para cada um dos envolvidos na discussão? O ente se dividiria em dois e a substância a partir daí representaria não mais uma verdade, mas existiria nesta condição paradoxal? Isso, em si, é um erro lógico. É inaceitável para a lógica humana conceber duas verdades sobre uma só coisa. Mas por que esta irregularidade paradoxal nos parece tão anômala e e essencialmente errada? Na pretensão de atingir o âmago das coisas que existem, preferimos restringir a existência destas a uma ou mais qualidades tangíveis à nossa compreensão e julgamento.
A existência do objeto de análise é por isso afetada? Não. O objeto continua a ser como sempre foi. Livre de qualquer característica humana. E é essa existência auto-suficiente que, inegavelmente, é. Sendo assim, livre de qualquer humanização em sua essência, a realidade objetiva, ou seja, verdade, é indiferente ao nosso julgamento. A verdade não faz questão de se mostrar amena aos olhos do mais sensível, ou nociva a quem deseja ver nela um mal. Esse é o motivo pelo qual nunca estamos em contato com a verdade. Ela, por si só, é indiferente e portanto pode ser hostil à nossa própria existência. A conteplação desta, portanto, é sempre coberta com conceitos humanos e pretensões causais que encobrem a essência da verdade: a falta de essência e a inexistência de qualidades objetivas.
"A VERDADE É."
Esta frase nos parece incompleta à primeira vista porque falta nela uma qualidade substantiva para explicar o que é este ente chamado verdade. Mas ela é completa porque exprime exatamente a falta de substância. Isto existe e simplesmente existe, e é indiferente à vida humana. Sendo indiferente, esta pode ser hostil. Instintivamente, evitamos ser passíveis à hostilidade e por isso não nos preocupamos em desvelar o vazio que subjaz todas nossas crenças.
Esta é a morte do ser, o nada inerente em tudo.
Desejaria uma boa noite, mas a verdade é que sou indiferente a isso.
"Se as portas da percepção fossem abertas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito"
- William Blake
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