- Hamlet

(Magritte, O prazer)
Um desequilíbrio químico, mal passageiro. O excesso de bile negra confunde a imaginação delirante do enfermo e faz emergir, como a carcaça de um encouraçado apodrecido das profundezas negras de um oceano abissal, a demência predatória. O comportamento se torna hostil, a pele fica pálida e o corpo adoece. Um ódio antinatural queima as entranhas e ofende os familiares. A astúcia aguçada pela paranóia latente e os sentidos abalados, mas constantes. O miasma fétido da decadência espiritual se mistura ao odor da fumaça constante e faz da mente um laboratório sádico de alucinações violentas e desejos infames, mil teatros de tragédias tenebrosas se esboçam num sorriso cruel. Tudo alimenta a pira selvagem que ordena possuir, consumir, dominar, oprimir. Afirmar a vontade autocrática soberana de um monarca solitário confinado nas masmorras de sua própria patologia. Não vejo pessoas, vejo presas. As maquinações criminosas produzem o estupor lamacento da maldição eterna, a maldição primeira! Seu principal fetiche é o assassínio. Afia as lâminas do prazer despótico e primitivo. Seja vingança, desprezo, surto ou embriaguez, qualquer destas fontes é fértil e suas crias, as pragas da loucura, inoculam o veneno em mentes virtuosas e joviais. O coito criminoso é brutalmente planejado, a sede é incontrolável. Ou estas garras cravam-se sem piedade no pescoço de um cordeiro inocente, ou elas cortarão a garganta do próprio demônio. O sangue negro então violará o solo materno da natureza que o abortou sob o estigma misantrópico da besta rapineira.
"Tempo cúmplice, mãos hábeis - e ninguém vendo nada;
Tu, mistura fétida, destilada de ervas homicidas,
Infectadas por Hécate com tripla maldição, três vezes
seguidas,
Faz teu feitiço natural, tua mágica obscena,
Usurpa depressa esta vida ainda plena"
- William Shakespeare
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