
Hoje passei por um aleijado numa cadeira de rodas. Quase que imediatamente, toda uma cena aconteceu na minha mente: eu abordava o homem e perguntava se queria se vingar, se queria fazer justiça. Você é desgraçado e sabe disso, por que não aproveita agora mesmo para se vingar do universo. Te ofereço minhas pernas, agora. Venha comigo, há um punhado de tábuas jogadas neste canto. Pegue uma, eu me deitarei na calçada e você pode me moer os joelhos com elas. Se preferir, fico de pé e você dá um golpe obliterante em minha lombar? Assim não faz tanta sujeira. Estará satisfeito assim? Reconhecerá que também tens o poder de afetar deus? Você PODE se vingar, só depende de oportunidade. Sorte ou azar. Caos. É Justo. Sua desgraça foi mero advento de um sistema randômico de intrínsecas cadeias de efeito e consequência na interação humana. Sem falar das tocantes e trágicas catástrofes naturais, como o pobre homem que foi acampar e acabou por ser esmagado por uma grande árvore que tombava morta. Comoção nacional. Também um outro pensamento me veio à mente: talvez todo tipo de abuso a aleijados seja puro medo.

"Faz uma trepanação no cérebro, Puxa, corta, rasga e aperta. O teu sexo, o teu sexo. Faz um peeling, põe um marca-passo, Se mutila todo e fica vesgo, Introduz um córneo na tua testa E põe um parafuso na cabeça."
- Rogério Skylab
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