quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Vaga preferencial para deficientes físicos.


Hoje passei por um aleijado numa cadeira de rodas. Quase que imediatamente, toda uma cena aconteceu na minha mente: eu abordava o homem e perguntava se queria se vingar, se queria fazer justiça. Você é desgraçado e sabe disso, por que não aproveita agora mesmo para se vingar do universo. Te ofereço minhas pernas, agora. Venha comigo, há um punhado de tábuas jogadas neste canto. Pegue uma, eu me deitarei na calçada e você pode me moer os joelhos com elas. Se preferir, fico de pé e você dá um golpe obliterante em minha lombar? Assim não faz tanta sujeira. Estará satisfeito assim? Reconhecerá que também tens o poder de afetar deus? Você PODE se vingar, só depende de oportunidade. Sorte ou azar. Caos. É Justo. Sua desgraça foi mero advento de um sistema randômico de intrínsecas cadeias de efeito e consequência na interação humana. Sem falar das tocantes e trágicas catástrofes naturais, como o pobre homem que foi acampar e acabou por ser esmagado por uma grande árvore que tombava morta. Comoção nacional. Também um outro pensamento me veio à mente: talvez todo tipo de abuso a aleijados seja puro medo. O medo traduzido em desprezo pelo desespero de se tornar um aleijado! Oh, que desgraça! Prefere estar morto do que aleijado. Ama mais um cadáver do que um humano incompleto. É realmente um bicho daninho e cruel, este homem. Não, não é. É uma simples vítima de seus impulsos. Afinal, pode contemplar com facilidade a dúvida aplicada à naturalidade da integração social abrupta destes ajeidados na sociedade. Quando um búfalo nasce aleijado ou de qualquer jeito ou se torna um por fatalidade do destino, ele é naturalmente deixado para trás e perece sob as garras dos predadores. O predador, por outro lado, não odeia o aleijado. Afinal, ele é seu delicioso alimento mais oportuno. Ele dissemina o medo entre os cordeiros que se encontram inteiros, acabando com a estima pelo aleijado e transformando o ódio primordial em uma pena falsa e auto viciante. O aleijado quebra o status quo do paradigma cotidiano das pessoas. Ele choca, tem uma presença aterradora sobre as mentes dos transeuntes que precipitam-se nas ruas. Existem também os parafílicos e sádicos que sofrem a "patologia" que é a obsessão por deficientes ou masoquismo sórdido e satisfação em se destruir fisicamente sem morrer. O aleijado mostra ao uno que seus membros tem valor, validade. Mas o ódio é gratuito e imperecível, além de maleável.

"Faz uma trepanação no cérebro, Puxa, corta, rasga e aperta. O teu sexo, o teu sexo. Faz um peeling, põe um marca-passo, Se mutila todo e fica vesgo, Introduz um córneo na tua testa E põe um parafuso na cabeça."
- Rogério Skylab

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