sábado, 5 de setembro de 2009

Inferno grego versus Lei 13.541

Lugar sombrio de tormento abaixo do paraíso, da terra e do Pontus, há um tártaro, lugar eterno de punição e condenação. Este maquinário mitológico de Destruição perpétua estava até mesmo embaixo do Hades. Um lugar tão longe do sol e tão profundo na terra, o Tártaro é coberto por três camadas de noite. É um lugar pegajoso e hostil engolfado de viscosidade mórbida. É um dos objetos primordiais vomitados pelo Caos (junto com Gaia e o Amor). É uma substância presente em poços na própria terra. Ainda hoje encontram elefantes, mamutes e outros grandes animais afundados e mortos, preservados em poços de tártaro. Essa viscosidade fétida também está presente (surpreendentemente seca) no cigarro, como a alcatrão. Também é uma condição bucal deplorável.



Agora a perseguição é aos fumantes. Eles nos proíbem e nos castram cada vez que podem e cada vez mais. Acredite, logo não se poderá fumar nem embaixo de toldos numa chuva forte. Antes fumavam os elegantes. Hoje fumam os junkies, os fodidos, os suicidas indulgentes. É mais difícil um jovem em plena puberdade voltar-se ao fumo: ela ainda não é inclinada para o suicídio. Não é ainda um desiludido destruidor nem enfrentou um tédio tão absurdo que permitiu que encontrasse vazão de suas frustrações no fumo. Sendo assim, a presença do fumante não influencia, como antigamente, que outros no local, admirados, venham a fumar. Não há mais elegância. Agora é de conhecimento público o compêndio de males e toxinas contidas num só cigarro. Com toda essa informação, um cidadão exemplar e institucionalizado não compraria uma carteira de cigarros procurando prazer. Ele procura comidas saudáveis, sucos naturais, vitaminas, minerais ou qualquer merda embalada pra vender com esse pretexto. Tudo isso pra viver e viver pra sempre. Além dos poucos fumantes meramente influenciados pelo momento, o fumante consciente sabe da destruição que está impondo a si mesmo e não tem vontade de parar. O vício é uma mera consequência e seu valor é desprezível. O veneno é um fluido marrom, teimoso e maculante, a substância que quando queimada libera o característico odor acre do cigarro, tanto quanto o tabaco, que por sua vez é agradável. É o tártaro que mancha os dentes e causa infecções na gengiva. O fumante sente isso, sabe disso de qualquer forma. Sabe das doenças, do futuro enevoado e dos sintomas que já se fazem presentes sem esforço. O fumante, antes de causar a destruição do planeta infectando a atmosfera com a fumaça de um cigarro, polui bem menos que qualquer carro, moto, caminhão, entre outras máquinas combustível fóssil. Esta fumaça obviamente muito mais volumosa causa doenças e envenenamentos que um fumante excessivo só sofreria em décadas de tabagismo. Então faz-se uma pomposa lei que proíbe o fumo no interior de estabalecimentos fechados por uma questão de saúde pública. Que piada! Se querem proteger a saúde, um controle do tráfego, da poluíção indiscriminada de fábricas, veículos e queimadas muito mais constantes que os fumantes não seria muito mais primordial e coerente? É fazendo com que as pessoas esqueçam destas verdadeiras fontes de doença corporativas que se gera o auto engano hipócrita com a idéia de que a pessoa estará mais saudável num ambiente proibido aos fumantes, mas quando sai de lá, se infecta num ambiente global pior ainda. Neste ambiente, nem ele se importa. Ele não se importa com a fumaça de sua churrasqueira, com o escapamento do seu carro, com a indústria que produziu todos os bens que ele possui, ele não dá a mínima e acha que contribui ecologicamente de maneira exemplar. Mas quando vê o fumante, ah, o senhor careta aproveita pra crucificá-lo como autor dos atos mais terríveis contra ele e a humanidade. O fumante pratica o tabagismo por opção pessoal, liberdade pessoal. Todos estão se destruindo e perecendo a todo momento e fingem que não. O fumante simplesmente contempla esta realidade e aceita, num contrato consigo mesmo, se intoxicar um pouco mais e lhe causar certo prazer. Então deixe o fumante curtir seu inferno grego tartáreo e procure o elixir da sua própria vida em suas dietas livres de gorduras e radicais livres. E ao sentir uma protuberância estranha sob sua pele, não minta a si mesmo: é um tumor.



"Tobacco is my favorite vegetable"

- Frank Zappa

Nenhum comentário:

Postar um comentário